[segunda-feira, fevereiro 06, 2006]

Extremismo

(Post sem desenho ou foto, porque tenho medo de ser atacada)

Setembro do ano passado o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou várias charges do profeta Maomé. Tinha de tudo: Maomé todo vestido de branco, com uma venda nos olhos e um facão na mão; Maomé com um turbante em forma de bomba; Maomé vedando a entrada de homens-bombas no paraíso por ter esgotado o número de virgens disponíveis, dentre outras. Logo após, vários outros jornais europeus, inclusive da Noruega, republicaram as charges.

Pra quê. Meses depois, os muçulmanos deram início a vários protestos pelo mundo, por considerarem as charges um insulto à fé islâmica. O editor de um jornal jordaniano que republicou as charges foi demitido logo em seguida e foi preso no sábado, acusado de insulto religioso de acordo com a lei de impresa daquele país.

No mesmo sábado os manifestantes atearam fogo na Embaixada da Noruega na Síria e a da Cisjordânia foi fechada após a ameaça de ataque. Ainda bem que o Brasil é um país neutro e até onde eu saiba, o número de extremistas é pouco. Mesmo assim aqui só receberemos pacotes que passem primeiro por detectores de metal. Só em caso.

Já é a segunda vez que eu trabalho em um lugar onde existe uma remota possibilidade de ataque (remotíssima, porque Graças a Deus o Brasil é abençoado no que diz respeito a ataques terroristas). Eu trabalhava no Pnud no legendário 11 de setembro, onde também funcionava a sede das Nações Unidas no Brasil e no mesmo prédio do FMI, Banco Mundial e PNUMA. Ou seja, se os radicais quisessem atacar algum lugar em Brasília, aquele era o prédio.

Por mais que eu condene os ataques, creio que os cartunistas e os jornais tiveram uma parcela de culpa. Parece até que não sabiam com quem estavam lidando, um povo que não tem medo de morrer e que não são dos mais tolerantes. Antes de tudo, por mais que não concordemos com a religião alheia, devemos ter respeito. Nunca tive a oportunidade de conversar com alguém que seguisse o Islã para entender o motivo de tanta revolta e desapego à vida. Não que eu concorde com o que fazem. Muito pelo contrário, acho que quanto mais guerra, menos soluções serão encontradas.

O problema é que as pessoas devem tomar cuidado ao brincar com a religião alheia. Principalmente em se tratando do Oriente Médio, onde sempre houve e sempre haverá guerras religiosas. No que me concerne, brincam comigo, falam mal da minha religião, generalizam todos os evangélicos, colocando todo mundo no mesmo saco sem nunca terem tido a curiosidade de saber os motivos pelos quais creio em Deus. Falam sem conhecimento de causa. Mas eu levo na esportiva, porque fé é sentida e está acima das coisas deste mundo. Posso pedir que Deus entre no coração de alguém, mas não posso forçar que sintam o que eu sinto.

E no final das contas, somos todos iguais, carne e alma, ninguém é melhor ou mais sábio do que seu próximo. Afinal, (como dizia um poeta que me esqueci o nome), o que sabemos é uma gota, o que desconhecemos é o oceano. O que nos diferencia é o que acreditamos que irá acontecer quando morrermos. E esta crença, desde que não nos leve a matar uns aos outros, deve ser respeitada, mesmo que os homens-bombas não pensem assim. De intolerantes, acho que eles já são o suficiente.


por Bella * 11:08 AM

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