[terça-feira, janeiro 03, 2006]

A crise do quarto de vida (The quarterlife crisis)

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Há algum tempo atrás, o período das trevas da vida de muitos acontecia quando se chegava aos quarenta anos e a ficha de que não eram mais tão novos assim caía, aflingindo os quarentões e quarentonas de plantão. No caso deles, tentavam rejuvenecer traindo suas esposas e arrumando menininhas de 18, com quem poderiam conversar sobre a banda de música baiana do momento ou assunto igualmente relevante. Pouco depois, as quarentonas viram a Vera Fischer namorando o Giannechini na novela, quiseram imitar e arrumaram moçoilos que lhes traziam uma aparente e idílica juventude, podendo conversar sobre Lego e Mortal Kombat com garotos que podiam ser seus filhos. Cheque-mate. Foi dado o troco. Mas ao invés de curar apropriadamente sua crise da meia idade, colocaram band-aid por cima da ferida aberta. Muito esperto.

Mas não é sobre relacionamentos entre quarentonas e meninos que comem Danoninho que quero falar aqui (apesar de ser um bom assunto para post futuro). Agora a crise que doravante só aparecia na meia-idade está antecipada. A idade das indecisões e desespero quanto ao futuro está sendo aos 20 e poucos anos. A crise que aparece lá pelos 25 anos assola cada vez mais jovens, sendo tão discutida no exterior - yes, não somos os únicos! - que já recebeu o nome de The quarterlife crisis (a crise do quarto de vida ou algo assim) pelos psicólogos e psicoterapeutas.

A razão é simples: nesta idade a gente termina os estudos e boom, temos que imediatamente arrumar um emprego pra justificar todo o dinheiro que os pais investiram em educação, aula de inglês, natação, computação, espanhol, francês, esgrima, dança do ventre, aula de etiqueta ou qualquer outra coisa que os pais tenham pago. Além disso, todo mundo começa a casar, sair de casa, morar sozinho e ai daqueles que não podem nem pagar um ingresso pro cinema com seu próprio dinheiro. A sociedade aniquila quem ainda for dependente aos 25 anos. A regra é clara: Independência ou morte.

Ninguém imagina o estrago que a pressão faz na cabeça de quem acaba de terminar a faculdade. Não sei como não explode. De um dia pro outro passamos de futuro da nação a problema social. Nem um cadastro sequer podemos preencher com a consciência em paz, porque tem sempre aquela perguntinha básica: "qual sua profissão?". Não podemos mais tacar um "estudante" e sair feliz pagando meia entrada em tudo que é canto. Somos desempregados, tentando descobrir qual profissão dentro da nossa área de formação mais no apetece e no caso de já sabermos, tentando entrar no cruel mercado de trabalho. No meu caso, não serei advogada se não passar no Exame da Ordem, não serei promotora se não passar no concurso do MP, não serei juíza se não passar no concurso do TJ. E serei desempregada se não descobrir rápido o que quero ser, porque o relógio não pára de fazer tic-tac-tic-tac só para que eu decida o que quero da vida.

E ainda tem a montanha-russa sentimental. Não se pode namorar sem que os outros falem que tá na hora de você casar. Como se o amor chegasse na hora marcada: entre 25 e 30 anos. E como se somente amor bastasse, e daí se vcs vão ter que morar debaixo da ponte. Se tiver condições e o amor ainda não tiver chegado, minha filha, é bom que vc se case assim mesmo, com o primeiro desavisado que aparecer, mesmo que o amor da sua vida só chegue aos 50 anos. 50 anos é muito tarde, não dá tempo mais de ter filhos. Pega qualquer um mesmo, só de ele ser bonzinho já tá valendo, melhor do que ficar pra titia. Como se casamento estivesse totalmente desvinculado de amor.

Estranho esse mundo de hoje. Faz com que as pessoas passem a vida trabalhando com que não gostam só porque tá na hora de ser independente. Tá na hora, tá na hora. Faz com que uns casem com os outros só porque todo o grupinho de amigos também tá casado ou em vias de casar. E diante destas exigências sociais, o número dos que sofrem da crise do quarto de vida só aumenta. Ô geraçãozinha complicada a nossa. Não sabe se segue o coração e faz o que tem realmente vontade de fazer ou se tenta se enquadrar e ser aceito pelos demais. Sugiro o seguinte: siga o seu coração sempre, mesmo que isto signifique quebrar a cara. Se quiser ficar de pernas pro ar, fique. Se quiser casar, case. Se quiser morar sozinho, more. Se quiser viver de música, viva. Se quiser atravessar o oceano Atlântico a nado, atravesse (depois me manda um cartaozinho de onde quer que chegue, ok?). Independente de qualquer coisa, curta o momento e siga seu coração. Nada de ficar sob a ditadura da sociedade, que se deixarmos, faz picadinhos de nós. Acalme-se que a crise passa. Pelo menos eu estou contando com isso. Afinal, tudo na vida passa. Até a uva passa.


por Bella * 5:13 PM

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