[sexta-feira, novembro 30, 2007]

Limpeza da alma

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Há momentos em nossa vida em que precisamos dar aquela geral no quarto, que está com livros em cima de revistas, que estão em cima de roupas, que estão em cima da cadeira, que está em cima de tudo mais que exista naqueles metros quadrados que chamamos de nosso. A sala, que é o local onde as pessoas sempre olham em primeiro lugar quando vêm nos visitar, é mantida sempre em ordem, na medida do possível, mesmo que vc não agüente mais aquela poltrona barulhenta ou aquela TV que chia no meio do Supercine. Afinal, a sala é o que as pessoas vêem, tem que ficar bonitinha e arrumada, senão o que iriam pensar da gente?

Porém, existem momentos em que precisamos largar a sala de mão e investir um tempo arrumando o quarto, fazendo aquela limpeza, antes que a bagunça nos engula e não possamos mais viver naquele lugar. Assim é a nossa alma. Vivemos tão preocupados com que aparentamos ser ou passar que muitas vezes não prestamos atenção naquilo que é o mais importante, que são os nossos sentimentos. Sejam eles bons ou ruins, é preciso fazer um check up interno esporadicamente. Vamos deixando de lado, "ah, amanhã eu vejo isso", até que a vida nos vire de cabeça pra baixo pra darmos atenção ao que realmente tem valor.

Este tipo de limpeza interna é a mais difícil de ser feita e ao mesmo tempo a mais importante. É tirando os manias, os defeitos, as raivas, as inquietações e os comportamentos negativos que arrumamos um canto para guardar as alegrias, os sonhos, as conquistas, o altruísmo e a felicidade. Porque se quisermos jogar as coisas boas em cima das ruins, vira um amontoado de sentimentos e sensações indefinidas, com os defeitos atrapalhando as qualidades e os medos entrando no caminho da segurança. O cronômetro tem que ser zerado e começar tudo de novo, com carinho e dedicação. Por mais que dê vontade de colocar tudo de ruim embaixo do tapete, aquele amontoado de coisas continuaria ocupando espaço que poderia ser ocupado por algo novinho em folha.

Ficar na posse de algo que nos atrapalha a viver, mesmo que seja varrido pra baixo do tapete e finja que não existe, nos impede muitas vezes de receber o que é de fato bom e agradável. Segurança e insegurança, medo e coragem, alegria e tristeza em regra não devem ocupar o mesmo lugar no espaço. O problema é que a danadinha da nossa mente, que adora fazer truques inexplicáveis, nem sempre deixa a sujeira toda ir embora de uma vez. A gente varre, varre, escova, escova, canta lerê lerê, lerê lerê lerê e a sujeira teima em não sair.

Até que em um dia ensolarado como outro qualquer, chega aquele momento que temos um estalo inesperado. Entendemos coisas antes complicadas de enxergar sobre nosso comportamento, pegamos o problema com as mãos, choramos (pq é difícil admitir que somos falíveis), pensamos, choramos de novo até que de uma hora pra outra tudo fica muito claro. Um, dois, três e... sumiu! É a aceitação do problema, do defeito e sua compreensão que nos ajuda a lidar com as consequências de nossos atos. É exatamente na hora que nossa visão fica límpida que conseguimos vencer aquilo que nos faz mal. Mesmo porque não temos como lutar contra aquilo que não enxergamos.

E depois de um processo às vezes longo, às vezes nem tanto, mas indubitavelmente doloroso, que a limpeza vem. Aquela sensação de saber onde se pisa, de saber exatamente o que se quer, por não ter nenhuma poeira ou bagunça no meio do caminho para nos atrapalhar é que mostra o quanto tem tanta coisa importante que nos passa despercebida. Ao compreender o porquê teimamos em não querer limpar tanta coisa em nossa vida é que crescemos. Melhorar algo que já é bom é fácil, mas transformar aquilo que parecia acabadinho em um supermega presente dos deuses é tarefa para poucos. Requer muita coragem, muita vassourada e muita determinação. Fazer faxina não é fácil. Mas o brilho depois compensa. E SE compensa.


por Bella * 3:23 PM

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